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"Nunca nos devemos assustar com os jovens, nunca!", ensina Papa Francisco



Confira uma das perguntas feitas ao Papa Francisco na Reunião Pré-Sinodal com os Jovens:

Yulian Vendzilovych, seminarista do instituto do Espírito Santo de Lviv, que pertence à Igreja greco-católica ucraniana. «Na sua opinião — questionou — o que deveria fazer um jovem, que se está a preparar para o sacerdócio e quer ser aberto à juventude e à cultura hodierna, para compreender o que há de precioso na cultura e o que é falso?». E deu como exemplo o uso das tatuagens «que é difícil entender».

Papa Francisco: Afinal, és um colega! Agradeço-te. Estás a falar de “testemunha vivo de Cristo”. É verdade, um sacerdote que não é testemunha de Cristo faz muito mal, muito mal. Tanto mal, erra, desorienta as pessoas, danifica. Mas quem deve ser testemunha de Cristo é a comunidade: o sacerdote é testemunha de Cristo por ser membro daquela comunidade. O pobre sacerdote, numa comunidade que não é testemunha de Cristo, não sei se conseguirá ir em frente. Sim, ele poderá testemunhar, mas o apoio da comunidade é o testemunho, e o primeiro trabalho a ser feito é que as comunidades sejam testemunhas de Cristo, comunidades cristãs. Caso contrário, o sacerdote estará sozinho, e pobrezinhos, os padres sozinhos, a sós sob o ponto de vista afetivo, porque a comunidade não os acompanha no testemunho, tornam-se apenas sacerdotes funcionais: a comunidade vai à igreja, “aluga” uma Missa, pede uma sepultura, a primeira Comunhão, e depois deixa-o sozinho. É um isolado numa comunidade que não é testemunha de Cristo. A primeira coisa que te digo é que te questiones: “Como é a tua comunidade, ou a comunidade do teu irmão, daquele outro...? Se uma comunidade não for testemunha de Cristo, ali deve intervir o bispo, ajudar o sacerdote e não o deixar sozinho. “Comê-lo-ão vivo”, porque não se pode ser testemunha sozinhos: há sempre necessidade da comunidade, e os grandes santos — pensemos em Francisco — procuraram imediatamente alguns companheiros, sem demora! A comunidade, Filipe Neri, imediatamente. Porque não se pode ser testemunhas de Cristo se não houver uma comunidade que testemunhe. Tu és testemunha numa comunidade de testemunhas de Cristo. Nisto consiste a relação entre o sacerdote e a comunidade: também a relação deve ser testemunhal. Porque existe uma doença muito grave, isto é, o clericalismo, e nós devemos sair desta enfermidade. Alguns de vós não são católicos, outros não são crentes, mas eu digo-vos com muita humildade: é uma das piores doenças da Igreja. O clericalismo. Quando uma comunidade procura um sacerdote e não encontra um pai, um irmão, mas um doutor, um professor ou um príncipe... E esta é uma das doenças que fazem muito mal à Igreja. Estou preocupado com isto, porque se confunde o papel paterno do sacerdote, reduzindo-o a um cargo de gerente: o “boss”. O boss da empresa, o dirigente... E preocupa-me também as atitudes não paternas, não fraternas do sacerdote que na relação com a comunidade não o deixam ser testemunha de Cristo. Por exemplo, o espiritualismo exagerado: quando encontrares estes padres que pensam estar sempre no céu, que são incapazes de compreender, acham que com uma atitude deste tipo — como digo — “com a cara da beata Imelda” [ri, riem] assim não, não dá... Neste caso, se cometerdes um deslize na vida, vais contá-lo a ele? Mas não, porque tens medo! Não encontras nele o testemunho da misericórdia de Cristo. Ou por exemplo quando vês um sacerdote que é rígido, que vai sempre em frente com rigidez, mas como pode a comunidade ir ter com ele? Falta o testemunho. E quando vês um sacerdote mundano, não é bom, é pior. Rezai por ele a fim de que o Senhor o converta, porque os sacerdotes mundanos causam tanto mal, tanto mal às comunidades. Mas também as comunidades: devem ser comunidades-testemunhas. Um dos vícios da comunidade é a bisbilhotice. Um cardeal simpático contou-me que conhecera um sacerdote com um grande sentido de humor e que na paróquia havia uma mulher muito tagarela, que falava de todos e de tudo. Mas morava tão próximo da paróquia, que da janela da sua casa podia ver o altar. Ia à Missa todos os dias e depois, durante as outras horas girava pela paróquia, falando mal das outras. Um dia estava doente, chamou o sacerdote e disse: “Padre, estou acamada com uma gripe forte, por favor, pode-me trazer a Comunhão?” — “Não se preocupe: a senhora, com a língua que tem, da sua janela chega ao tabernáculo”. Mas diga-me, numa paróquia onde os fiéis mexericam todo o dia contra eles mesmos e contra o sacerdote, o pobre padre está sozinho, sem o testemunho a Cristo da comunidade. E eu menciono apenas a tagarelice, porque para mim é uma das piores coisas das comunidades cristãs. Mas, sabem que os mexericos são um terrorismo? Um terrorismo, as bisbilhotices? Sim, porque um bisbilhoteiro se comporta como um terrorista: aproxima-se, fala com um, lança a bomba da tagarelice, destrói e vai-se embora. Tranquilo. Tu és testemunha do sacerdote com a comunidade e da comunidade com o sacerdote.

Por fim, a tua última pergunta, sobre a cultura. Não te assustes com as tatuagens: os eritreus, desde há anos, faziam-se a cruz aqui [indica a testa], também nos nossos dias os vemos. Tatuavam-se a cruz. Sim, há exageros, hoje vejo que alguns... acho que eles têm tantas tatuagens que não podem doar o sangue, não é?, se não me engano é algo do gênero, porque há perigo de intoxicação... Não, quando se exagera... mas é um problema de exagero, não de tatuagem. A tatuagem indica pertença. Tu, jovem, que te tatuaste assim, o que estás a procurar? Qual pertença exprimes? E começar a dialogar com isto, e a partir dali chegamos à cultura dos jovens. É importante. Mas não te assustes: nunca nos devemos assustar com os jovens, nunca! Pois há sempre, mesmo atrás das coisas não muito boas, algo que nos fará chegar a qualquer verdade. E nunca te esqueças disto: o duplo testemunho juntos, o do sacerdote e o da comunidade com o sacerdote. Obrigado.

Créditos da imagem: Setor Juventude da Diocese de Santo André.

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