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Sexo, amor e Deus: a resposta católica ao puritanismo e ao nietzscheanismo



Muitos dos ensinamentos da Igreja Católica são difamados tanto na alta cultura como na cultura popular, especialmente as doutrinas sobre o casamento e a sexualidade. As visões da Igreja sobre o sexo são repetidamente apresentadas como puritanas, negativas e ultrapassadas – relíquias da Era do Bronze.

Os críticos denunciam a Igreja principalmente por estabelecer limites não razoáveis à liberdade sexual dos homens e mulheres contemporâneos. Os líderes da Igreja, sempre que defendem a moralidade sexual tradicional, são ridicularizados como versões da personagem “Beata”, do humorista Dana Carvey – espalhafatosos, acusadores, secretamente pervertidos e obcecados por sexo.

Primeiro, gostaria de responder à acusação de puritanismo. Ao longo da história da religião e da filosofia, um estilo puritano é, de fato, aparente. Seja em suas manifestações maniqueísta, gnóstica, ou no dualismo platônico, a filosofia puritana ensina que o espírito é bom e que a matéria é ruim ou decaída. Na maioria desses modelos, o propósito mesmo da vida é escapar da matéria, especialmente da sexualidade, a qual tanto nos acorrenta ao reino material.

Mas o cristianismo bíblico autêntico não é puritano. O Deus Criador descrito no livro do Gênesis fez toda a realidade física – planetas, estrelas, a Lua e o Sol, animais, peixes e até as criaturas que rastejam sobre a terra – e viu que tudo era bom, e até ótimo. Desse modo, não há nada perverso ou moralmente questionável sobre os corpos, o sexo, o desejo sexual ou o ato sexual. Na verdade, é justamente o contrário.

Quando, no Evangelho segundo Marcos, o próprio Jesus é perguntado sobre o casamento e a sexualidade, ele retoma o livro do Gênesis e a história da criação: “no princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher; e os dois não serão senão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne” (Mc 10, 6-8). A frase final, ouso dizer, é inescapavelmente “sexy”. Platão pode ter sido um puritano, e talvez João Calvino também, mas Jesus com certeza não foi.

Assim, dada a ênfase na bondade do sexo e do prazer sexual, o que separa a visão cristã da filosofia da revista “Playboy”, por exemplo? A resposta simples é que, para os povos bíblicos, a sexualidade deve ser inserida no contexto mais amplo do amor, o que significa desejar o bem do outro. Para a espiritualidade e moralidade católicas, é fundamental que tudo na vida seja magneticamente atraído pelo amor, que tudo seja condicionado e transfigurado pelo amor. Assim, as nossas preocupações financeiras devem ser marcadas pelo amor, para que não se deformem em materialismo crasso. Os nossos relacionamentos também devem ser fermentados pelo amor, para que não se reduzam a ocasiões de manipulação em interesse próprio. Até mesmo as nossas diversões devem ser direcionadas ao amor, para que não virem mera autoindulgência.

O sexo não é exceção a essa regra. A bondade do desejo sexual está ordenada, por sua própria natureza, a se tornar parte de um programa de amor altruísta e, portanto, a tornar-se algo raro e que favoreça a vida. Se você quer ver o que acontece quando esse princípio é ignorado, preste atenção na cultura do “ficar” que predomina atualmente entre tantos jovens (e alguns não tão jovens). O sexo virou uma mera recreação, um esporte de contato, uma simples fonte de prazer superficial. Isso produziu legiões de pessoas desesperadas, tristes e ansiosas, muitas das quais nem desconfiam de que a sua sexualidade errante seja exatamente a causa de tais efeitos deletérios. Quando o prazer sexual é arrancado de si mesmo pela atração magnética do amor, ele também é salvo da preocupação consigo mesmo.

Mas há ainda um terceiro passo: o amor humano deve se situar no contexto do propósito divino. Após Jesus ter esclarecido que o destino do homem e da mulher é se tornarem uma só carne, ele acrescentou que “O que Deus uniu”, não deve ser separado por ser humano algum. Quando eu trabalhava em tempo integral como padre numa paróquia, tive o privilégio de preparar muitos jovens casais para o matrimônio. E eu sempre lhes perguntava: “Por que querem se casar na Igreja?”. Após alguma hesitação, os jovens sempre respondiam algo na linha do “É porque nós nos amamos”. E eu sempre replicava: “Isso é maravilhoso, mas não é o bastante para um casamento religioso!”.

Eu procurava mostrar que receber o sacramento do matrimônio exigia que os noivos se dessem conta de que eles haviam sido unidos por Deus – e precisamente pelas razões de Deus – e de que a sua sexualidade e amor mútuo estariam a serviço de um propósito ainda maior. Fazer os votos matrimoniais perante um sacerdote e uma comunidade católica, eu lhes dizia, equivalia a dizer que eles sabiam que o seu relacionamento seria sacramental – um veículo da graça de Deus para o mundo como um todo. Essa contextualização final assegurava que a sexualidade – boa em si mesma e elevada pelo amor – tinha, agora, algo de realmente sagrado.

A nossa cultura tornou-se crescentemente nietzscheana, isto é, obcecada com o poder da autocriação. É por isso que a tolerância é o único valor objetivo que muitas pessoas reconhecem – e que a liberdade, especialmente na arena da sexualidade, é tão grandemente valorizada. É por isso, ainda, que as tentativas de contextualizar o sexo dentro de parâmetros mais elevados de sentido são tão frequentemente ridicularizadas como puritanismo ou reacionarismo espalhafatoso.

Deus seja louvado pelo fato de que, no meio de milhões de vozes em defesa de uma sexualidade autoindulgente, exista ao menos a voz da Igreja Católica, bradando “Não”. Um não a serviço de um mais elevado “Sim”!

Por Modestia e Pudor

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