"Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo..." (Dt 30,15-20, 51 1; Lc 9,22-25)

Somos "seres de relação", e nas relações nos humanizamos. Começamos nosso "caminho quaresmal" perguntando-nos como nos relacionamos com nossos desejos/impulsos (jejum), como nos situamos diante de nossos semelhantes (esmola) e como cuidamos de nossa amizade com o Senhor (oração). São as chamadas "práticas quaresmais".
Para aprofundar as "práticas quaresmais", coloque-se diante do Senhor da vida em atitude de reverência, fazendo a oração preparatória, colocando nas mãos d'Ele tudo o que vai acontecer durante a oração: "Que todas as minhas ações, intenções, pensamentos, sentimentos... sejam puramente ordenados ao serviço e louvor de Deus Nosso Senhor".
- Suplique a graça indicada na introdução desta semana. Como "pontos para a oração" leia atentamente as indicações a seguir.
- Como "pontos para a oração" leia atentamente as indicações a seguir.
A vida de Jesus, testemunhada nos evangelhos, nos convida a viver de um modo mais integrado. Quaresma é tempo favorável para "ordenar a própria vida" na direção do sonho de Deus para toda a humanidade. No Evangelho fala-se das "práticas quaresmais" da oração, esmola e jejum, em que nossas relações são iluminadas e questionadas pelo modo de proceder de Jesus.
Três gestos nos humanizam e tornam a vida mais leve e com sentido; condensam o sentido da vida cristã. A vida é um abrir-se aos demais (esmola), um mergulhar no mistério de Deus (oração) e, ao mesmo tempo, ser capaz de ordenar e dirigir a própria existência (jejum). Isso implica deixar-se envolver pela graça e permitir que o amor circule em cada um e no mundo, gerando vida em abundância.
A oração nos ajuda a buscar sentido em todas as experiências, pois ela nos aproxima da simplicidade e da ternura. Ou seja, torna o coração mais dócil, fazendo-nos mais humanos e, por isso, mais próximos de Deus. A oraçáo é uma mão estendida para o divino; não é dobrar a vontade de Deus a nosso favor; pelo contrário, é colocar-nos em sintonia com Deus, para entendermos o que é melhor para nosso verdadeiro bem. É deixar Deus ser Deus, ou seja, revelar sua paternidade e maternidade a cada um de nós.
Orar é sentir-nos participantes da riqueza divina e de seus dons. É sentir-nos agraciados e plenos de sentido do infinito, tirando-nos da mesmice e do vazio. Orar nos molda o coração de acordo com o coração de Deus, nos ajuda a ser mais irmãos uns dos outros e reforça a certeza de que somos filhos e filhas amados(as) de Deus.
O jejum nos humaniza, nos faz descer do pedestal e nos torna mais sensíveis e solidários; fazer jejum tem sentido quando brota da sensibilidade que evita o consumo desenfreado, o esbanjamento e o orgulho. Na expressão de Santo Inácio, jejuar é "sair do próprio amor, querer e interesse", ou seja, viver na simplicidade de quem renuncia a um "EU" inflado em favor de um "mundo diferente".
Jejuamos para crescer; jejuamos para recordar que as "coisas" não são um fim, mas um meio; jejuamos como forma de olhar ao redor e recordar que a realidade é muito mais ampla que nossa própria situação. Jejuar não é "deixar de comer"; é aceitar de maneira consciente que nossos desejos, nossas necessidades, nossos interesses, nossas preocupações não são o centro do mundo. Jejuar é cuidar-se, com simplicidade e veneração, e manter viva a "alma" (= sempre animados). Enfim, o jejum pode nos tornar sensíveis ao próprio mistério da vida; é colocar em questão razão de ser da vida. Para que vivemos?
A palavra "esmola" soa mal. Dá ideia de resto, do que sobra... Precisamente porque brota da piedade divina e se modela sobre ela, a esmola não se reduz a um gesto de ordem apenas material: ela manifesta "um ato que indica o fazer-se companheiro de viagem junto a quantos se encontram em dificuldade", participando com ternura de sua situação.
O sentido está em oferecer algo de si, importante, significativo. Tem a ver com abertura de coração, sensibilidade e olhos abertos. É resultado de uma atenção permanente e ativa, que vai ao encontro do outro, que toma iniciativa, que se comove. E um estímulo a superar o assistencialismo, que mantém as diferenças, sustenta a dependência e não promove a cidadania. Provoca-nos ã solidariedade e ao espírito de compaixão, move-nos ao serviço,à presença-qualidade, ao voluntariado, ã prática do bem e da justiça.
- Agora leia, saboreando, o texto evangélico indicado para este dia.
- Deixe ressoar em seu coração as palavras de Jesus; converse com Ele sobre o sentido das três práticas quaresmais; verifique se elas são um "modo de proceder constante" em sua vida ou, pelo contrário, são atitudes que foram se esvaziando com o tempo.
- Que gestos concretos você pode assumir como expressão de uma vivência encarnada das três práticas quaresmais?
- Termine sua oração dando graças ao Senhor (talvez lendo o Salmo indicado) e registrando no caderno de vida os sentimentos e apelos que brotaram com mais força.