
Em primeiro lugar, devo dizer que nunca fui uma aluna brilhante. Infelizmente eu sempre tive dificuldade em várias matérias, não conseguia progredir em muitos temas, e por várias situações (principalmente na faculdade) tive minha nota diminuída por divergir do que o professor pensava. Estudei em escola pública - o que, na minha opinião, apenas é uma dificuldade para passar no vestibular, não sendo um impedimento para progredir em termos intelectuais.
[Cá entre nós, a qualidade de ensino tanto nas escolas públicas quanto nas particulares está muito longe de ser uma base sólida de alta cultura. As escolas públicas têm menos da metade do conteúdo da particular, e a diferença, nos resultados, está em quem passa ou não em uma universidade pública]
Enfim, voltando aos fatos, eu não passei no curso que queria em primeira opção, e acabei, meio perdida na vida, mas por direção divina, indo parar na Terapia Ocupacional. Nos primeiros anos de faculdade não me dedicava muito, estudava sem muito esmero, e mesmo assim queria ter nota boa, como se o boletim fosse um prêmio por minha vida não ter tomado o rumo que eu queria. Desanimei, chorei, e aí veio um conselho de ouro de uns amigos: Não importa o lugar que estivermos, temos que encontrar alguma tema que nos agrade e instigue. Este é um conselho do professor Olavo e de muitos outros professores. Precisamos achar um assunto que desperte profundamente nosso interesse e curiosidade. Só assim é possível dar o nosso melhor sem sentir o pesar disso.
Eu não somente encontrei um tema que me instigava, como também encontrei um sentido para me esforçar na universidade. O tema veio do meu interesse pelo papel da mulher na sociedade. Estou tentando conciliar isso com um dos pontos que é da seara da T.O.: papéis ocupacionais. Já o sentido veio de um dos públicos atendidos pela minha profissão: pessoas com deficiência.
Lembrei dos santos: Santa Teresa dÁvila dizia: "Acredite em Deus que você está exatamente onde deveria estar". De São Josemaria Escrivá: "Oras, mortificas-te, trabalhas em mil coisas de apostolado..., mas não estudas. - Então, não serves, se não mudas. O estudo, a formação profissional, seja qual for, entre nós é obrigação grave". Lembrei de Pier Giorgio Frassati e sua dificuldade em estudar, apesar de que, se fosse preciso, virava a noite fazendo isso, pois via que ser um bom profissional era obrigação do bom cristão.
Deus não me colocou na Terapia Ocupacional à tôa. Eu precisava me dedicar para cumprir os planos Dele, seja lá quais fossem.
No público-alvo da TO encontrei pessoas que Jesus muito ama: aqueles com problemas, aqueles que não são queridos, aqueles que não são visto como "úteis" pelas pessoas, aqueles que precisam de amor. Foi o motivo para eu estudar o máximo que eu conseguisse.
Nesse meio tempo, entre não querer e depois me descobrir na profissão, foram longos períodos de oração conciliados com a vida de estudos. Por vida de estudos, além da faculdade, vinham os estudos do COF ou de filosofia. Até eu estabelecer uma rotina mais estruturada de estudos e oração, eu fazia as coisas de uma maneira deslocada. Em um retiro do opus dei aprendi a fazer um plano de vida. O plano de vida é um direcionamento para você viver sua vida de maneira mais organizada. Nele você coloca metas em termos de estudos, virtudes, e espiritualidade. Isso me ajudou a ordenar minha rotina, organizar-me por fora para organizar-me por dentro.
Já há muito tempo, desde o colegial, que eu me lembre, tento participar da missa diária. No meu plano de vida há a missa, o terço (que rezo no ônibus ou caminhando de um local para o outro), horário fixo para acordar e mais ou menos fixo para dormir, exame de consciência pela noite, meditação de uma leitura espiritual e da bíblia. Os livros espirituais que costumo ler são: a vida de algum santo, Imitação de Cristo, livros de S. Josemaria Escrivá, de Sto Afonso de Ligório e escritos de Sta Teresa dÁvila. Eu gosto muito da vida dos santos: muito nos inspiram e nos dão forças! Lembro de ter lido sobre São José de Cupertino e sua imensa dificuldade em reter informações na memória. Hoje sempre rezo para ele!É interessante colocar no Plano de Vida algumas metas de virtudes: você precisa ser mais humilde? Precisa ser mais generoso? Precisa reclamar menos? O ideal é conversar com um bom sacerdote para que ele te ajude a estabelecer atitudes que possam te ajudar a alcançar determinadas virtudes. É sempre bom, também, fazer alguma mortificação para refrear nossos instintos: tomar o café sem açúcar, comer a salada sem sal, dormir sem travesseiro, acordar exatamente quando toca o despertador (esse é o mais dificil para mim), etc.
O Padre Paulo Ricardo costuma falar que quando não temos um diretor espiritual (e mesmo se o tivermos hehe) é muito importante pedir para nosso anjo da guarda nos ajudar, e também pedir a intercessão de Nossa Senhora e algum santo de devoção.
E os estudos?? Eles estão na rotina! Se eu acordo cedo, participo da Santa Missa, vou para o trabalho ou universidade, e a noite faço 15 minutinhos de leitura espiritual + Bíblia + exame de consciência, ainda reservo 30 minutos para estudar! Só 30 minutos? Sim!O Prof Olavo recomendava isso. Algumas pessoas conseguem estudar mais, todavia tente começar com 30 minutos.
Nesses 30 minutos dá para ler algum diálogo socrático, dá para ler ou ouvir um pedacinho de uma aula do COF, dá para ler livros clássicos de literatura universal(aliás, meu amigo Fabio Florence, professor de filosofia e jurista, indica Homero, Virgílio, Cícero, Shakespeare e Camões como o básico dos básicos para educação do imaginário).
É claro que nessa meia hora não estou contando minha dedicação aos temas específicos do meu curso. Esses 30 minutos são pequenas tramas do tecido que um dia virá a ser a base da vida intelectual que estamos construindo. É o que faz a diferença entre alguém ser um simples "acadêmico" ou "professor acadêmico" e um "intelectual".
Bom, ainda sobre minhas angústias pelo percurso, muitas vezes quis desistir de tudo. Pelas pressões ideológicas da universidade, por me decepcionar ao encontrar na "elite intelectual" meros técnicos, por minhas notas, pelas pessoas que estavam ao meu redor. Já entrei numa crise existencial (rsrs) sobre, afinal, o que eu fazia de realmente bom nessa vida? Isso é um conselho do grande Olavão: Temos de nos perguntar qual é nosso ponto forte, e investir nele. Eu posso ter sido uma aluna mediana a vida inteira, mas alguma coisa eu faço de decente, e essa coisa é escrever e me comunicar. Um grande consolo que tive na graduação foi quando uma professora muito renomada, após eu apresentar um seminário, me disse que eu deveria ser professora. É isso! É aí que eu tenho que investir. É nisso que me dou bem, então vou me esforçar para ser a melhor professora que eu conseguir ser.
A história ficou grande, mas é que não quis deixar um post informal com alguns conselhos soltos. Quis contar um pouco do que passei, talvez até para servir de consolo aos que passam por isso também.
O resumo do post é:
- Descubra, onde você estiver, o que você realmente gosta, o que desperta seu interesse, e dedique-se a isso!
- No que você realmente é bom? Todo mundo é bom em alguma coisa, mesmo que for uma coisa pequena. Descubra e seja o melhor nisso!
- Faça um plano de vida, ordene sua rotina, e não deixe de rezar o terço diariamente e assistir a Santa Missa ao menos mais de uma vez na semana.
- Estude algo do seu interesse ou de "alta cultura" por 30 minutos diários.
- Reserve 15 minutos antes de dormir para fazer um exame rápido de consciência* + leitura da biblia + leitura espiritual. Vá dormir pensando nas mensagens que você retirou desses escritos.
- Peça ajuda ao seu anjo da guarda e ao santo de devoção para dar conta de suas obrigações e alcançar a santidade.
- Lembre-se sempre: Tudo é pela graça de Deus. Acredite, confie, e se entregue a Ele!
*Sugestão de exame de consciência: pergunte-se "O que eu fiz de bom hoje? O que eu fiz de mau? O que posso melhorar para amanhã?"

São Josemaria Escrivá sobre os estudos:
- Para um apóstolo moderno, uma hora de estudo é uma hora de oração.
- Se tens de servir a Deus com a tua inteligência, para ti estudar é uma obrigação grave.
- Estuda. - Estuda com empenho. - Se tens de ser sal e luz, necessitas de ciência, de idoneidade. Ou julgas que, por seres cábula e comodista, hás-de receber ciência infusa?
- Aconfessionalismo. Neutralidade. - Velhos mitos que tentam sempre remoçar. Tens-te dado ao trabalho de meditar no absurdo que é deixar de ser católico ao entrar na Universidade ou na Associação profissional, ou na sábia Assembleia, ou no Parlamento, como quem deixa o chapéu à porta?
-Dá um motivo sobrenatural à tua atividade profissional de cada dia, e terás santificado o trabalho. [fonte]
Por Modéstia e pudor