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Coragem para superarmos a violência



Como um costume que busca nortear a meditação do tempo quaresmal, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil convidou toda a Igreja a refletir nesta Campanha da Fraternidade 2018 sobre a superação da violência, com o lema “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt 23,8). Em 1983, a CF abordou a mesma temática e gerou grandes frutos na sociedade.

Ao recorrermos ao texto base, compreendemos a meditação sobre a superação da violência direta, aquela na qual nossa liberdade é vítima do medo e da insegurança presentes nas grandes cidades brasileiras. Também encontramos profunda reflexão sobre a violência cultural inserida em nossa sociedade, como a intolerância e o preconceito.

Ao percorrermos este tempo iniciado na Quarta de cinzas, rumina em nossas vidas claros sinais de que este tema não deve passar despercebido pelo povo católico, ao contrário, aprofundado e meditado também em outros aspectos. Certamente não podemos deixar de olhar a realidade que nossa sociedade vive em relação à violência, que vem tomando proporções devastadoras, como os ocorridos das últimas semanas no Rio de Janeiro. Como cristãos, devemos transmitir a justiça e a verdadeira a paz, atributos divinos, e o consolo e a esperança aos que vivem à mercê de tantas situações de violência na sociedade. Entretanto, a superação da violência nunca deve consistir apenas em desarmamento da sociedade ou em supressão violenta de conflitos. (Cf. DOCAT 270 E 287).

Muitas vezes, a causa da violência nasce da exploração dos mais necessitados através de políticas públicas nas quais se apresenta o “remédio paliativo”, pois, se não há o desejo da melhora da vida humana, se oferece o alimento para um vício cada vez mais alastrado para um exército de defensores políticos, em outras palavras, cabides eleitorais; algo tão presente e escancarado na vida da República Brasileira. A Semana Santa nos recorda justamente de situações que correspondem a tais práticas, quando Nosso Senhor Jesus foi duramente atacado e injustiçado pelos sumos sacerdotes que manipulavam o povo. (cf. João 19,6-7.12.16)

Outra violência que podemos meditar é aquela na qual buscamos elevar nossa compreensão como verdade e alimentamos em nós mesmos um ser presunçoso, onde, sem discernimento, visamos ofuscar os que tem compreensão diferente da nossa. Em nossa sociedade tão dividida por esse abismo acima relatado, encontramos tantas situações que ferem o Coração de Nosso Senhor, como aquelas chicotadas que o maltrataram.

Há poucos dias, vi em uma rede social a seguinte frase: “O Diabo veste farda” – alusão aos policiais que supostamente são envolvidos em milícias e fatos que não condizem com a missão de tal corporação. Sem ignorar as situações que tem lamentável envolvimento dos homens que deveriam prezar por nossa segurança, jamais poderemos desonrar aqueles que mesmo com medo de perder suas vidas, se colocam na frente de diversas situações para nos salvar. Aos policiais, bombeiros e soldados, devemos agradecer por irem às ruas de um país com estatísticas de violência de guerra, por amor à vida do próximo, como o policial tenente-coronel Arnaud Beltrame, que deu sua vida para proteger as pessoas do ataque terrorista na França. Sim, anjos também vestem farda.

São elementos que podemos adicionar em nossa meditação sobre a violência, arestas que afetam a nossa vida, que também são graves e merecem a nossa atenção. Como Igreja de Cristo, quaresma é, antes de tudo isso, tempo de conversão, de um olhar interior para o sentido de nossa fé; assim podemos olhar para a Campanha da Fraternidade como um ponto de reflexão, para cristãos no meio da sociedade, mas jamais podemos deixar de focar no mistério da ressureição.

Os católicos brasileiros, um povo alegre diante tantos sofrimentos, esperançoso diante de tantas situações que empobrecem esta nação, vem demostrando que chegou a hora de uma mudança em que não se pactua com violências sociais e culturais, que tentam se instalar em nossa sociedade. Por causa da violência da corrupção, vimos uma presidente ser pichada e seu partido tomando do próprio veneno aplicado ao povo. Por conta da violência urbana contra inocentes, vimos manifestações pedindo justiça a quem tem o digno direito. Por causa da violência contra os próprios alicerces da fé desta nação, encontramos vozes que se levantam a favor da vida e da fé, inclusive dentro de nossa Igreja do Brasil, impulsionados pelo Ano do Laicato, pedindo mais defesa do alicerce de nossa Fé e dizendo “não” para correntes de pensamento sócio-político, canalizado muitas vezes por pensamentos marxistas, que violentam a doutrina do catolicismo, secularizam nossas comunidades e relativizam a Doutrina Social da Santa Igreja.

Que possamos mergulhar no mistério da justiça e na esperança que nasce da Cruz do ressuscitado. “Tenham coragem!”, assim Papa Francisco conclamou aos jovens. Assim devemos ter diante de tantos desafios.

Feliz e Santa Páscoa!

Escrito por Felipe Bastos, FSVA com colaboração de Flávia Tauane, FSVA


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