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Como falar sobre a fé com o seu amigo que é “mais do tipo científico”


Talvez você já tenha ouvido alguém dizer: “sou uma pessoa mais do tipo científico”. O cenário se desenrola mais ou menos assim: você encontra alguém; os dois começam a bater papo e, naturalmente, surge o tópico da fé religiosa; e então o outro dispara a desculpa: “olha, eu sou uma pessoa mais do tipo científico, mas acho isso muito interessante”. BUM! 


Você já deve ter coçado a cabeça algumas vezes tentando entender o sentido daquilo. Acho que a melhor e mais caridosa tradução é: “Prefiro acreditar somente no que foi comprovado pelo método científico, e Deus não se encaixa nisso”. Como ensinou a Gaudium et Spes, “o progresso hodierno das ciências e das técnicas que, em virtude do seu próprio método, não penetram até às causas últimas das coisas, pode sem dúvida dar caso a certo fenomenismo e agnosticismo” (GS, 57).


Eis aqui então 4 coisas sobre a ciência e a Igreja que devemos conhecer e compartilhar.

1. “Cientificismo”

Comecemos pelo item técnico e filosófico. “Cientificismo” é o termo utilizado para a crença excessiva no poder do conhecimento e das técnicas científicas. A ironia é que a alegação de que a metodologia da ciência é o único jeito confiável de se obter conhecimento não é ela mesma uma alegação científica, e nem pode também ser comprovada cientificamente. A pesquisa científica pressupõe várias premissas filosóficas. Ser “uma pessoa mais do tipo científico” é dar menor importância ao senso comum, à experiência, à intuição, à razão e muito mais. Todos estes outros métodos de compreensão do mundo são apropriados e importantes em certas situações. “O método de investigação de que usam estas disciplinas se arvora indevidamente em norma suprema de toda a investigação da verdade. É mesmo de temer que o homem, fiando-se demasiadamente nas descobertas atuais, julgue que se basta a si mesmo e já não procure coisas mais altas” (GS, 57).


2. Pessoas

Na história da Igreja, há muitas pessoas que testemunharam, através do trabalho de suas vidas, a compatibilidade entre a fé e a ciência. Eis aqui algumas delas, que poderão te ajudar na próxima vez que ouvir a desculpa “sou uma pessoa mais do tipo científico”:


Padre Georges Lemaître

Se você já ouviu falar da teoria do Big Bang, então pode achar interessante saber que o primeiro homem a propor a teoria da expansão do universo foi o sacerdote belga Pe. Georges Lemaître. Este sacerdote também era astrônomo e professor de física, e foi o primeiro a derivar a chamada “Lei de Hubble”, em 1927. 


Padre Gregor Mendel

Já pensou no quanto você se parece com os seus pais? Então você já deve ter falado sobre genética em algum momento. O fundador da moderna ciência da genética foi o Pe. Gregor Mendel, um frei agostiniano, que também era cientista! Ele publicou em 1866 o trabalho que demonstrava, de maneiras previsíveis, a ação de “fatores” invisíveis sobre os nossos traços visíveis – aquilo que nós hoje chamamos de genes.


Irmão Guy Consolmagno, S.J.

Você sabia que o Vaticano tem o seu próprio observatório? Tem mesmo! O Observatório do Vaticano é uma instituição astronômica de ensino e pesquisa mantida pela Santa Sé, e localizada em Castel Gandolfo, Itália. O irmão jesuíta Guy Consolmagno é o diretor do observatório. Ele fez o doutorado no MIT e o pós-doutorado no observatório de Harvard. Ele entrou para os jesuítas em 1991.


3. O que diz o Catecismo

O Catecismo da Igreja Católica também fala sobre a compatibilidade entre a fé e a ciência. Ele nos diz que “muito embora a fé esteja acima da razão, nunca pode haver verdadeiro desacordo entre ambas: o mesmo Deus, que revela os mistérios e comunica a fé, também acendeu no espírito humano a luz da razão. E Deus não pode negar-Se a Si próprio, nem a verdade pode jamais contradizer a verdade” (CIC, 159). E diz também que “a investigação científica de base, tanto como a aplicada, constituem uma expressão significativa do domínio do homem sobre a criação. A ciência e a técnica são recursos preciosos quando postos ao serviço do homem” (CIC, 2293).


4. O que diz a Gaudium et Spes

Se ainda quisermos mais evidências, a constituição pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, diz que “dedicando-se às várias disciplinas da história, filosofia, ciências matemáticas e naturais (...) pode o homem ajudar muito a família humana a elevar-se a concepções mais sublimes da verdade, do bem e da beleza e a um juízo de valor universal” (GS, 57). Eis aí então! A Igreja ama a ciência, e nos encoraja ativamente a seguir o seu caminho. A ciência nos ajuda a conhecer a verdade e a melhor conhecer a beleza com que Deus criou o nosso mundo. Nós católicos devemos ter a confiança de saber que – através da boa e verdadeira busca do conhecimento – a Igreja também tem um grande apreço por esse modo de compreensão do nosso mundo.


Por Benedict Hince. Traduzido do original por Rogério Schmitt

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