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7 lições do burro



Burro!

Quantas vezes não ouvimos isso com tom de menosprezo e ofensa. Ainda que a todo Natal nós nos recordamos da Virgem Maria sendo carregada por um burrinho, pouco nos vem o anseio de compreendermos o mistério desse animal.

No livro Lições do Burro, de Hugo de Azevedo, o autor traz 18 lições que o burrinho nos dá. Essas lições foram criadas pelo santo do cotidiano, São Josemaria Escrivá, a quem o autor do livro foi amigo pessoal, podendo então escrever com minúcias sobre a forma como São Josemaria contemplava o burrico. Recomendamos sem cansar a leitura íntegra do livro.

O santo não apenas se comparava a um burro, mas ia ainda mais longe: nas suas cartas com seu diretor espiritual, assinava ao final com um “b.s” – burro sarnento. Burro, e burro com chagas, pecador: “Um pecador que ama Jesus Cristo”, como ele próprio dizia, explica Hugo de Azevedo.

Nesse texto conheceremos 7 lições que o burro nos ensina.

A humildade

São Josemaria exclamava diariamente o salmo Ut iumentum factus sum apud te – “fui como um jumento diante de Ti” (Sl 72). Especialmente quando estava iniciando a criação da Opus Dei, utilizava a imagem do burro para lembra-se de que não é ele quem faz nada, mas sim de que é apenas um instrumento para que o Amor se faça real, assim como o burro quando conduzia o Verbo Divino prestes a se fazer carne, no ventre da Santíssima Virgem Maria.

Mas, explica Hugo, “já não se tratava de uma simples expressão de humildade, mas de um ato de absoluta submissão e docilidade a Deus, apesar das suas fraquezas. ‘Pobre burro!’, exclamava, e diria certa vez que desejaria ter a firmeza do jumento no cumprimento dos propósitos de cada dia”.

“O jumento é a imagem da humildade, sempre ao nosso serviço, sem esperar elogios nem recompensas, embora agradeça que o alimentem e lhe deem uma palmadinha no lombo”.

Saber ouvir

Primeira condição da obediência, sem a qual não haverá santidade.

“ ‘ Orelhas grandes, como antenas’... Parece burro mas não perde nem um som nem um gesto. Todo ele é atenção, vigilância, prontidão. E entende tudo o que lhe dizem: a um estalido, para; a um assobio, trota; a uma “arre”, apressa-se; a um toque, vira; a um puxão, inclina-se...Nem precisa de palavras”.

“Oxalá a nossa consciência fosse assim tão sensível à voz de Deus!”

“São Josemaria Escrivá nunca esqueceu o desabafo de um padre:

- Sabe? Sinto muita inveja do meu burro! Serviu-me em sete paróquias e sempre se portou bem; não tenho nada que lhe apontar!

Ser bom não é fazer coisas boas; é fazer a vontade de Deus! O burrinho não sai por sua conta para dar voltas à nora ou para carregar sacos de farinha, mas só quando o dono lho diz. Trabalha que trabalha até não poder mais, mas sempre atento à vontade do dono.”

O amor

São Josemaria chamava a atenção para os olhos do jumento, que eram belos, grandes, úmidos para o dono, exprimindo amor e gratidão sempre, virtudes das quais surgem tantas outras.

“O jumento é grato ao dono que o alimenta e o lava, e ‘fala’ com ele, embora o carregue de fardos. E não havíamos nós de amar Quem nos criou do nada, e nos fez à sua imagem, e fala mesmo conosco, e nos prepara uma vida eterna superior?”.

A obediência

O burro não faz nada além do que lhe mandam, venha a ordem de um adulto ou criança. Assim como um governante medíocre caso tenha um bom secretário é capaz de grandes feitos; como um comandante ótimo com soldados preguiçosos e desobedientes não será capaz de vencer uma guerra; também Deus, com filhos que só caminham por si próprios não será capaz de fazer-se cumprir a Sua vontade em nós. Sejamos obedientes como o burro.

A paulada

O burro distrai-se com facilidade, deixa-se levar pelos apetites – ora um raminho aromático, ora o sono a desviá-lo – e precisa de pancada.

Mas não se ofende, entende quando a pancada é merecida e sempre volta ao reto caminho.

Ah, se aprendêssemos do burro a levar pancadas, a não nos revoltarmos com as correções que o outro ou até Deus nos impõe.

“A ira divina! Cada vez me comove mais a ira divina! Que Deus se importe conosco! Que Deus se zangue comigo! Ele, Deus infinito, na sua glória sem fim! Eu, um verme de um planeta microscópico! Não se pode negar que me ama! Que sou realmente seu filho! Benditos sejam todos os seus ‘castigos’!”

As consolações

O burro sabe que após a paulada virá o carinho. Sua fé no dono não vacila.

Conosco esse carinho físico de Deus está presente no sacramento da confissão, que nos traz de volta ao reto caminho após a queda, que nos alegra a alma – a este sacramento São Josemaria chamava de “o Sacramento da alegria”. Não há alegria maior para um pai ver seu filho limpo de todos os vícios. Imagine Deus! E que graça termos um Pai provido de “amnésia”, que não nos aponta o dedo, que não nos recorda diariamente nossos erros passados, mas que nos ama sempre inteiramente de novo! “Que amabilíssima ‘amnésia divina’”.

“Que alegria e paz o burro sente quando, com ou sem paulada, retorna ao bom caminho!”

O pandeiro dos Anjos

“O burrico morre a trabalhar, e, ‘mesmo depois de morto, continua a servir’, rematava São Josemaria. A sua carne enterra-se e serve de alimento a uma árvore, e da sua pele fazem-se tambores e pandeiros para cantar ao Deus-Menino”.

“O burrinho continua a servir mesmo depois de enterrado. E nós, que continuaremos vivos em Deus, continuaremos a servir, e muito mais do que na Terra”.

Sim, ‘trabalharemos’ muito no Céu, dando toda a glória a Deus, inter-comunicando a nossa felicidade e ‘espalhando o bem sobre a Terra’, na expressão de Santa Terezinha.

No fundo, a última lição do burrinho é a primeira de todas”.

Escrito por: Carolina Maldaner

#Burro #formação

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